segunda-feira, 29 de março de 2010

Minha droga!





"Que coisas são essas que me dizes sem dizer, escondidas atrás do que realmente quer dizer?
Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias. Mas confuso, perdido, sozinho, minha única certeza é que de cada vez aumenta ainda mais minha necessidade de ti. Torna-se desesperada, urgente. Eu já não sei o que faço. Não sinto nenhuma alegria além de ti.
Como pude cair assim nesse fundo poço? Quando foi que me desequilibrei? Não quero me afogar: Quero beber tua água. Não te negues, minha sede é clara."


Caio F. Abreu




No fundo do poço posso perceber que voce é minha droga, meu ecstasy. Sendo assim, vou tentando encontrar meu vício, encontrar voce, para que minha sede, meus calafrios e meus desejos mais obscuros sejam saciados.
Procuro tanto voce mas só encontro aquela vodka que, mesmo antes de perceber esse vício, ela já percorria em minhas veias. Meu desespero é por mais uma dose do meu único vício, é a necessidade de sentir-te em minha boca, em meu corpo, em meu ser. Meu ser? Cade? Este se perder no exato momento em que não te vi mais aqui, quando me deu as costas e me deixou drogada, pra depois sentir o efeito da abstinencia percorrer meu corpo.
Sei que droga eu preciso, sei onde achar, mas não agora. "Não te negues", pois sei que também sou a sua droga, sou o seu vício, sou a sua abstinencia e não negues a sede existente em tua boca para ter meu corpo novamente.

sábado, 13 de março de 2010

Sentia falta


Naquela noite de sexta-feira, depois de fumar seus cigarros de marca cara e beber aquela vodka escocesa da melhor, percebeu que estava sozinho. Olhou ao seu redor, tantos amigos, tantas amigas, tanta gente bonita e mesmo assim aquele sentimento de solidão tomou-lhe o peito, procurou a amada e nada encontrou.
Depois de tantas doses de destilada e tabaco em excesso, sentia-se tonto, na verdade estava embriagado mas não queria admitir, cambaleou até seu carro e deixou todos pra trás. Pensava apenas nela.
Após voltas e voltas atrás da única mulher da sua vida, atrás de quem realmente valia a pena lutar, sua cabeça piorava e girava cada vez mais e altas doses de tabaco lhe fez perceber que nunca ia esquece-la e, talvez parecendo um cliché, mais aquilo o enlouquecia.
Voltou correndo para a sua casa com aquela esperança idiota de encontrá-la naquela cama em que várias noites consumaram aquele amor fumegante que sentiam, mas estava vazia, que imbecil, a cama estava arrumada do jeitinho que ela tinha feito daquela ultima vez, um mês atrás, seu perfume ainda tomava conta do travesseiro que ela usava e ainda podia-se encontrar fios daqueles cabelos que um dia roçaram o rosto dele.
E, mais uma vez aos prantos, ele caiu no chão, aquele chão que lhe servia de colchão naquele ultimo mês, o chão que lhe servia de travesseiro apenas pra não desarrumar os últimos vestígios dela e, mais uma vez, ele dormiu no chão, embriagado e com um cigarro ainda aceso. O coração arrasado e seus sonhos perturbados, mas ele sentia falta dela.





(Alice Chíxaro)

sábado, 6 de março de 2010

Além do Ponto



Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre perdia todos pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito, parece falso dito desse jeito, mas bem assim eu ia pelo meio da chuva, uma garrafa de conhaque na mão e um maço de cigarros molhados no bolso. Teve uma hora que eu podia ter tomado um táxi, mas não era muito longe, e se eu tomasse um táxi não poderia comprar cigarros nem conhaque, e eu pensei com força então que seria melhor chegar molhado da chuva, porque aí beberíamos o conhaque, fazia frio, nem tanto frio, mais umidade entrando pelo pano das roupas, pela sola fina esburacada dos sapatos, e fumaríamos beberíamos sem medidas, haveria música, sempre aquelas vozes roucas, aquele sax gemido e o olho dele posto em cima de mim, ducha morna distendendo meus músculos. Mas chovia ainda, meus olhos ardiam de frio, o nariz começava a escorrer, eu limpava com as costas das mãos e o líquido do nariz endurecia logo sobre os pêlos, eu enfiava as mãos avermelhadas no fundo dos bolsos e ia indo, eu ia indo e pulando as poças d'água com as pernas geladas. Tão geladas as pernas e os braços e a cara que pensei em abrir a garrafa para beber um gole, mas não queria chegar na casa dele meio bêbado, hálito fedendo, não queria que ele pensasse que eu andava bebendo, e eu andava, todo dia um bom pretexto, e fui pensando também que ele ia pensar que eu andava sem dinheiro, chegando a pé naquela chuva toda, e eu andava, estômago dolorido de fome, e eu não queria que ele pensasse que eu andava insone, e eu andava, roxas olheiras, teria que ter cuidado com o lábio inferior ao sorrir, se sorrisse, e quase certamente sim, quando o encontrasse, para que não visse o dente quebrado e pensasse que eu andava relaxando, sem ir ao dentista, e eu andava, e tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era. Começou a acontecer uma coisa confusa na minha cabeça, essa história de não querer que ele soubesse que eu era eu, encharcado naquela chuva toda que caía, caía, caía e tive vontade de voltar para algum lugar seco e quente, se houvesse, e não lembrava de nenhum, ou parar para sempre ali mesmo naquela esquina cinzenta que eu tentava atravessar sem conseguir, os carros me jogando água e lama ao passar, mas eu não podia, ou podia mas não devia, ou podia mas não queria ou não sabia mais como se parava ou voltava atrás, eu tinha que continuar indo ao encontro dele, ou podia mas não queria ou não sabia mais como se parava ou voltava atrás, eu tinha que continuar indo ao encontro dele, que me abriria a porta, o sax gemido ao fundo e quem sabe uma lareira, pinhões, vinho quente com cravo e canela, essas coisas do inverno, e mais ainda, eu precisava deter a vontade de voltar atrás ou ficar parado, pois tem um ponto, eu descobria, em que você perde o comando das próprias pernas, não é bem assim, descoberta tortuosa que o frio e a chuva não me deixavam mastigar direito, eu apenas começava a saber que tem um ponto, e eu dividido querendo ver o depois do ponto e também aquele agradável dele me esperando quente e pronto.

Um carro passou mais perto e me molhou inteiro, sairia um rio das minhas roupas se conseguisse torcê-las, então decidi na minha cabeça que depois de abrir a porta ele diria qualquer coisa tipo mas como você está molhado, sem nenhum espanto, porque ele me esperava, ele me chamava, eu só ia indo porque ele me chamava, eu me atrevia, eu ia além daquele ponto de estar parado, agora pelo caminho de árvores sem folhas e a rua interrompida que eu revia daquele jeito estranho de já ter estado lá sem nunca ter, hesitava mas ia indo, no meio da cidade como um invisível fio saindo da cabeça dele até a minha, quem me via assim molhado não via nosso segredo, via apenas um sujeito molhado sem capa nem guarda-chuva, só uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito. Era a mim que ele chamava, pelo meio da cidade, puxando o fio desde a minha cabeça até a dele, por dentro da chuva, era para mim que ele abriria sua porta, chegando muito perto agora, tão perto que uma quentura me subia para o rosto, como se tivesse bebido o conhaque todo, trocaria minha roupa molhada por outra mais seca e tomaria lentamente minhas mãos entre as suas, acariciando-as devagar para aquecê-las, espantando o roxo da pele fria, começava a escurecer, era cedo ainda, mas ia escurecendo cedo, mais cedo que de costume, e nem era inverno, ele arrumaria uma cama larga com muitos cobertores, e foi então que escorreguei e caí e tudo tão de repente, para proteger a garrafa apertei-a mais contra o peito e ela bateu numa pedra, e além da água da chuva e da lama dos carros a minha roupa agora também estava encharcada de conhaque, como um bêbado, fedendo, não beberíamos então, tentei sorrir, com cuidado, o lábio inferior quase imóvel, escondendo o caco do dente, e pensei na lama que ele limparia terno, porque era a mim que ele chamava, porque era a mim que ele escolhia, porque era para mim e só para mim que ele abriria a sua porta.


Chovia sempre e eu custei para conseguir me levantar daquela poça de lama, chegava num ponto, eu voltava ao ponto, em que era necessário um esforço muito grande, era preciso um esforço muito grande, era preciso um esforço tão terrível que precisei sorri mais sozinho e inventar mais um pouco, aquecendo meu segredo, e dei alguns passos, mas como se faz? me perguntei, como se faz isso de colocar um pé após o outro, equilibrando a cabeça sobre os ombros, mantendo ereta a coluna vertebral, desaprendia, não era quase nada, eu mantido apenas por aquele fio invisível ligado à minha cabeça, agora tão próximo que se quisesse eu poderia imaginar alguma coisa como um zumbido eletrônico saindo da cabeça dele até chegar na minha, mas como se faz? eu reaprendia e inventava sempre, sempre em direção a ele, para chegar inteiro, os pedaços de mim todos misturados que ele disporia sem pressa, como quem brinca com um quebra-cabeça para formar que castelo, que bosque, que verme ou Deus, eu não sabia, mas ia indo pela chuva porque esse era meu único sentido, meu único destino: bater naquela porta escura onde eu batia agora. E bati, e bati outra vez, e tornei a bater, e continuei batendo sem me importar que as pessoas na rua parassem para olhar, eu quis chamá-lo, mas tinha esquecido seu nome, se é que alguma vez o soube, se é que ele o teve um dia, talvez eu tivesse febre, tudo ficara muito confuso, idéias misturadas, tremores, água de chuva e lama e conhaque batendo e continuava chovendo sem parar, mas eu não ia mais indo por dentro da chuva, pelo meio da cidade, eu só estava parado naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, na mesma porta que não abre nunca.

Caio Fernando de Abreu

sexta-feira, 5 de março de 2010

O fim

Então, naquele ultimo dia dos muitos que se passaram, em cima daquele leito de amor ficamos calados apenas nos olhando, um olhando os olhos do outro, conversávamos através dos olhos e então uma frase surgiu rasgando aquele silencio e quando eu menos esperava: "eu te amarei pra sempre." Vi naqueles olhos a sinceridade de sempre, aquelas palavras foram apenas o começo de uma história. Mas o inesperado aconteceu, enquanto eu terminava de colocar minhas vestias para retornar a minha casa, aquelas palavras me pegaram de surpresa de novo só que com um tom melancólico: "eu te amarei pra sempre, mas...", nunca é bom quando você escuta esse "mas" continuou: "não posso ficar contigo agora, quero me dedicar aos estudos, talvez mais tarde poderíamos continuar. Sei que posso te perder, mas preciso disso agora." Não aguentei segurar a voz do choro que se formava no fundo da garganta e engasgada eu disse: "tu tens certeza do que estás fazendo?" Simplesmente me olhou "tenho, sei que te amo e vou te amar pra sempre. Você pode seguir sua vida, mas sei que no final você será só minha." Não aguentei mais, as lágrimas escorreram em meu rosto, virei-me e sai de lá o mais rápido possível sem se quer um ultimo beijo. Chorava aos prantos, me perguntava o que eu tinha feito de errado, me culpava por tudo e deparei-me com uma lojinha, bebidas e mais bebidas e me vi em minha cama, embriagada e chorando me perguntava ainda o que eu tinha feito de errado. Saboreando aquele gosto amargo do fim inesperado, queria que tudo voltasse a ser como antes. Ainda não sei o que fazer, mas eu sei que sinto aquela saudade doída de quem se ama. Quase um mês já se passou e eu continuo naquela velha história, embriagada e me perguntando o porque, me perguntando porque então não se dedica como disse que faria, me perguntando o que fiz de errado, me perguntando onde está aquele nosso amor. Caminho todos os dias atrás de quem perdi, procuro em todos os abraços aquele abraço específico e procuro encontrar a felicidade incondicional que antes eu sentia. Procuro no meio de tantos aquele sorriso, mesmo com tanta gente ao meu redor ainda sinto falta de um alguém específico e, acima de tudo, procuro a luz no fim do túnel.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A LUA!


As vezes você se pega pensando no passado, no que deveria ter feito, no que poderia não ter feito ou no que gostaria de ter mudado. Então, consequentemente, você fica na escuridão, na triste e se afunda cada vez mais, você cava sua própria cova e quando estás prestes a se enterrar você pensa: "só uma olhadinha pela janela" e vê, por trás de todas aquelas nuvens, por trás de toda escuridão, você simplesmente deslumbra a LUA. Esta que, para alguns não tem significado nenhum e que para outro possui um significado imenso, te traz de volta a vida. Querendo ou não, a partir daquele momento mágico entre o seu eu e a sua lua, a vida volta a fazer sentido, volta a ter esperanças. Você vê naquela lua, a lua que você via nos olhos daquela pessoa amada, você vê naquela lua, o que vocês sentiam quando se encontravam, você vê naquela lua, a esperança de voltar um dia. E você simplesmente se delicia olhando pra lua que tem aquele sentido para os dois imaginando que aquela pessoa também está olhando pra lua que sempre será só de vocês.



"Subi correndo no primeiro bonde, sem esperar que parasse, sem saber para onde ia. Meu caminho, pensei confuso, meu caminho não cabe nos trilhos de um bonde". (Caio F. Abreu - homenagem ao quinhos)